Ferritina Elevada: Quando Devo Me Preocupar?

Ferritina elevada: o que pode ser?
A ferritina é uma proteína que se liga ao ferro e ajuda a armazenar o mineral dentro das células. Ela é encontrada em muitos tecidos do corpo, incluindo o fígado, baço, medula óssea, tecido gorduroso etc.

A ferritina consiste em um indicador importante do nível de ferro no corpo, pois a quantidade de ferritina presente no sangue é, dentro de limites, proporcional à quantidade de ferro armazenada. Os níveis normais de ferritina variam dependendo do sexo e idade da pessoa.

Quando o exame de ferritina é solicitado?
O exame de ferritina é geralmente solicitado para avaliar os níveis de ferro no corpo. O teste é frequentemente solicitado para diagnosticar e monitorar o tratamento de condições relacionadas à deficiência ou sobrecarga de ferro. Dessa forma as faixas normais de ferritina em um paciente individual devem levar em consideração a variação devido à idade, sexo e possivelmente origem étnica.

Como interpretar um exame de ferritina alta?
A interpretação de um exame de ferritina alta depende do contexto clínico do paciente, pois existem várias condições que podem levar a um aumento nos níveis de ferritina.

Ferritina aumentada e sobrecarga de ferro
Ferritina aumentada (hiperferritinemia): ocorre quando a ferritina de um paciente está acima do intervalo de referência superior. O intervalo de referência superior varia com a idade, sexo e método laboratorial. Ferritina alta sozinha não indica sobrecarga de ferro.

Sobrecarga de ferro: ocorre quando a absorção de ferro excede as necessidades fisiológicas, levando a estoques excessivos porque há uma capacidade fisiológica limitada para excreção do excesso de ferro. O organismo não possui uma via metabólica de liberação do ferro.  A sobrecarga de ferro é geralmente indicada por um IST (Índice de Saturação da Transferrina) >45% e pode ocorrer devido a várias causas. 

Quais os sintomas da ferritina alta?
A ferritina alta em si não causa sintomas específicos. Na maioria dos casos, ela é detectada por meio de exames de sangue de rotina realizados para avaliar a função hepática, renal, metabólica etc.

Causas reativas de níveis elevados de ferritina sérica, incluindo malignidade, distúrbios inflamatórios, insuficiência renal, doença hepática e síndrome metabólica, devem sempre ser consideradas, pois são todas consideravelmente mais comuns do que a verdadeira sobrecarga de ferro.

Pacientes com níveis elevados de ferritina sérica devem ser avaliados sobre ingestão de álcool e outros fatores de risco para doença hepática, histórico de transfusão de sangue, histórico familiar de sobrecarga de ferro e presença ou ausência de diabetes mellitus tipo 2, obesidade e hipertensão, bem como sobre sintomas e sinais que podem indicar um distúrbio inflamatório ou maligno subjacente.

Altos níveis de ferritina são mais comumente causados por inflamação, infecção, doença hepática, particularmente esteatohepatite não alcoólica, fígado gorduroso, doença renal, excesso de álcool, síndrome metabólica ou malignidade. Nesses casos, um alto nível de ferritina não reflete com precisão os estoques de ferro do organismo.

A sobrecarga de ferro é frequentemente ignorada porque seus sintomas são inespecíficos e danos multiorgânicos graduais ocorrem ao longo de muitos anos. Seus sintomas podem imitar aqueles de doenças muito mais comuns, como doença hepática alcoólica, diabetes e osteoartrite.

Os sinais e sintomas de ferritina alta são devidos às condições subjacentes (por exemplo, infecção) e não à ferritina alta por si só.

Ferritina elevada nas Doenças hepáticas
A ferritina é uma proteína que armazena ferro no organismo e é produzida principalmente pelo fígado. A doença hepática pode afetar a função hepática e, consequentemente, aumentar os níveis de ferritina no sangue. Na doença hepática, a inflamação crônica do fígado pode levar a um aumento na produção de ferritina pelas células hepáticas.

Portanto, doenças hepáticas, como hepatite crônica ou cirrose, podem aumentar os níveis de ferritina no sangue. A ferritina é um reagente de fase aguda liberado por macrófagos ativados e células hepáticas danificadas.

Ferritina elevada na Obesidade
A obesidade é uma condição em que há um acúmulo excessivo de gordura no organismo. A ferritina é uma proteína que armazena ferro no organismo e pode ser produzida não apenas pelo fígado, mas também pelo tecido adiposo.

Na obesidade, a produção de ferritina pelo tecido adiposo pode aumentar devido à inflamação crônica que ocorre no tecido adiposo. A obesidade também pode levar a um aumento da resistência à insulina, que pode afetar a função do fígado e aumentar os níveis de ferritina. Por isso, a obesidade pode estar associada a níveis elevados de ferritina.

Ferritina elevada na Hemocromatose
A Hemocromatose Hereditária associada à mutação da HH (Hemocromatose Hereditária) é uma doença genética autossômica recessiva comum em indivíduos de ascendência europeia, na qual um aumento na absorção intestinal de ferro leva a depósitos excessivos de ferro em órgãos como fígado, pâncreas, coração, hipófise, testículos, articulações e pele. A detecção e o tratamento precoces podem prevenir completamente as sequelas clínicas e, em pacientes sintomáticos, a flebotomia reduz efetivamente a morbidade e a mortalidade.

Causas de Hiperferritinemia

Aumento da síntese de ferritina devido ao acúmulo de ferroAumento da síntese de ferritina não associado a acúmulo significativo de ferroAumento da ferritina como resultado de dano celular
– Hemocromatose hereditária (genética)
– Aceruloplasminemia hereditária
– Sobrecarga secundária de ferro por transfusão de sangue ou ingestão/administração excessiva de ferro
– Eritropoiese ineficaz: anemia sideroblástica, algumas síndromes mielodisplásicas (por exemplo, anemia refratária com sideroblastos em anel)
– Talassemias
– Atransferrinemia
– Doença da Ferroportin
– Doenças malignas
– Histiocitose maligna ou reativa
– Hiperferritinemia hereditária com e sem catarata
– Doença de Gaucher
– Infecções agudas e crônicas  
– Doenças inflamatórias crônicas
– Doenças autoimunes
Doenças hepáticas, incluindo:
– Necrose hepática
– Hepatite viral crônica
– Esteatohepatite alcoólica e não alcoólica
– Consumo excessivo crônico de álcool

Doenças raras associadas ao aumento da ferritina
Porfiria Cutânea Tardia, Síndrome de Catarata com Hiperferritinemia Hereditária, Doença de Gaucher, Aceruloplasminemia, Doença da ferroportin, Atransferrinemia.

Investigação laboratorial inicial
O exame da ferritina é uma das investigações mais comumente solicitadas. Enquanto níveis baixos de ferritina sérica invariavelmente indicam estoques reduzidos de ferro, níveis elevados de ferritina podem ser devidos a múltiplas etiologias diferentes, incluindo sobrecarga de ferro, inflamação, doença hepática ou renal, malignidade e a síndrome metabólica. Um teste-chave na investigação de uma ferritina elevada inesperada é o IST (Índice de Saturação Transferrina).

Se a ferritina sérica estiver elevada e houver uma causa transitória potencial (por exemplo, infecção aguda, surto de uma condição inflamatória crônica), é prudente verificar novamente a ferritina no prazo de uma semana após a causa transitória ter sido resolvida.

Exames para investigação inicial da ferritina elevada
Os seguintes testes são recomendados para pacientes com nível de ferritina sérica inexplicável e persistentemente elevado:

Repetir a dosagem de Ferritina;
Índice de Saturação da Transferrina (IST);
Hemograma completo;
Proteína C Reativa (PCR) e Velocidade de Hemossedimentação (VHS);
Creatinina sérica;
Enzimas hepáticas: Aspartato aminotransferase (ALT) e Gamaglutamiltransferase (GGT);
Hepatites virais: HBsAg e Anti-HCV;
Ultrassonografia Abdominal;
Glicemia de jejum e Hemoglobina Glicada (HbA1C);
Perfil Lipídico.

A Hemocromatose Hereditária (HH) é uma causa incomum de Hiperferritinemia e o teste laboratorial para HH está indicado quando a ferritina está elevada e o IST (Índice de Saturação da Transferrina) maior que 45%.

Em alguns casos, os pacientes podem precisar de testes adicionais para confirmar ou descartar sobrecarga de ferro, o que pode incluir Ressonância Magnética com quantificação do ferro hepático ou cardíaco.

Algoritmo diagnóstico para avaliação de ferritina elevada

Tratamento da ferritina alta
O tratamento da ferritina elevada depende da causa subjacente. É importante consultar um médico para avaliação e diagnóstico adequados, e determinar a causa exata da ferritina alta.

Se a causa da ferritina alta for a sobrecarga de ferro, o tratamento pode incluir sangrias terapêuticas, que consistem em remover regularmente uma quantidade de sangue para reduzir a quantidade de ferro no organismo. Em alguns casos, medicações quelantes de ferro podem ser prescritas para remover o excesso de ferro do organismo, especialmente em pacientes portadores de anemia, que não podem ser submetidos a sangria terapêuticas.

Se a causa da ferritina alta for uma doença hepática, o tratamento pode incluir medicações para controlar a inflamação e a progressão da doença hepática, além de mudanças no estilo de vida, como evitar o álcool e uma dieta saudável.

Se a causa da ferritina alta for a obesidade, o tratamento pode incluir mudanças no estilo de vida, como dieta e exercícios para perder peso e reduzir a inflamação crônica. Em alguns casos, se a causa da ferritina alta não puder ser identificada e tratada, o médico pode prescrever a flebotomia terapêutica, que consiste na retirada de sangue regularmente para diminuir os níveis de ferro e, consequentemente, de ferritina no organismo.

Como controlar a ferritina sérica elevada com IST (Índice de Saturação da Transferrina) < 45%
Em pacientes saudáveis com elevação inexplicável da ferritina e IST (Índice de Saturação da Transferrina) <45%, um período de observação pode ser informativo: níveis estáveis e moderadamente aumentados podem não exigir investigação adicional, enquanto níveis flutuantes são tipicamente vistos em esteatose hepática ou excesso de álcool.

Em pacientes saudáveis, com níveis de ferritina sérica inexplicáveis e moderadamente elevados (<1000 ng/mL) e saturação de transferrina normal, um período de observação, com ajuste de estilo de vida, se apropriado, pode ser razoável com avaliação repetida após 3 a 6 meses.

Pacientes com hiperferritinemia persistente inexplicada (especialmente >1000 ng/mL) requerem encaminhamento a um especialista.

Na maioria dos casos de hiperferritinemia secundária a condições inflamatórias ou outras, o gerenciamento da condição subjacente levará à redução dos níveis de ferritina. Por exemplo, a abstinência de álcool geralmente levará à melhora da ferritina dentro de semanas a meses; e a perda de peso e o controle melhorado do diabetes e da pressão arterial geralmente levarão à redução dos níveis em pacientes com síndrome metabólica.

Conclusão
A descoberta de uma ferritina sérica elevada é um enigma comum na prática clínica moderna. A sobrecarga de ferro é uma causa relativamente incomum desse quadro e pode ser excluída, na grande maioria das vezes, pela descoberta por um IST (Índice de Saturação da Transferrina) normal, portanto, a consideração das muitas causas reativas (hepáticas, malignas, renais, hematológicas e metabólicas) é importante: muitos casos não exigirão investigação adicional se algumas investigações simples forem realizadas. A compreensão de causas mais raras de hiperferritinemia está se expandindo, mas exigirá genética molecular especializada para o diagnóstico.

Estas informações fornecem uma visão geral e podem não se aplicar a todos. Consulte seu médico para saber se são aplicáveis ao seu caso e para obter mais detalhes sobre o assunto.

Referências
1- Cullis JO, Fitzsimons EJ, Griffiths WJ, Tsochatzis E, Thomas DW. Investigation and management of a raised serum ferritin. Br J Haematol. 2018;181(3):331–40.
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3- Adams PC, Reboussin DM, Barton JC, McLaren CE, Eckfeldt JH, McLaren GD, et al. Hemochromatosis and iron-overload screening in a racially diverse population. N Engl J Med. 2005 Apr 28;352(17):1769–78. 
4- Adams, P.C. & Barton, J.C. (2011) A diagnostic approach to hyperferritinemia with a non-elevated transferrin saturation. Journal of Hepatology, 55, 453–458.                        
5- Adams, P.C., et] al. (2005) Hemochromatosis and iron-overload screening in a racially diverse population. New England Journal of Medicine, 352, 1769–1778.

Autor: Dr. Sílvio Marques Pessoa
Uberlândia – MG, 02 de setembro de 2024   
                                                                        

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