
Fevereiro Laranja é o mês de conscientização e combate à leucemia.
Fevereiro é o mês de conscientização e enfrentamento da leucemia. A doença afeta os glóbulos brancos do sangue, os quais são conhecidos como leucócitos. As leucemias produzem células “doentes” na medula óssea. A imunidade do paciente fica prejudicada e, em decorrência disso, aparecem as infecções. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são imprescindíveis para o aumentar as chances de cura e de controle.
A leucemia está entre os dez tipos de câncer mais comuns no Brasil. O número estimado de novos casos por ano no País, no período de 2023 a 2025, é de 11.540 casos, segundo projeção do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A principal característica da doença é o acúmulo de células malignas na medula óssea, que substituem as células sanguíneas saudáveis.
Como a leucemia se desenvolve?
A medula óssea é um tipo de tecido que ocupa o espaço de dentro dos ossos, no tutano dos ossos, e é responsável por produzir os seguintes componentes do sangue:
– Hemácias – responsáveis por transportar oxigênio a todo o organismo;
– Plaquetas – atuam na coagulação do sangue, evitando hemorragias;
– Glóbulos brancos (leucócitos) – combatem as infecções do organismo.
A leucemia acontece quando uma célula do sangue, que ainda não atingiu a maturidade, sofre uma mutação genética e se transforma em uma célula cancerosa. Esse tipo não cumpre sua função adequadamente, além de se multiplicar mais rápido e morrer menos do que as células saudáveis. Dessa forma, as células cancerosas vão substituindo as células sanguíneas da medula óssea.
Dessa forma as células leucêmicas ocupam a medula óssea, bloqueando a produção das células sanguíneas normais. Podem infiltrar também vários órgãos como baço, fígado, sistema nervoso central e linfonodos.
A leucemia começa quando o DNA de uma única célula na medula óssea muda (sofre mutação) e não consegue se desenvolver e funcionar normalmente. As células leucêmicas geralmente se comportam como glóbulos brancos anormais, doentes.
As leucemias podem se manifestar de forma aguda ou crônica. A leucemia aguda é caracterizada por células jovens, imaturas, sem capacidade funcional e pela rápida evolução do paciente para a morte, com raríssimas exceções, se não tratadas adequadamente. Apesar da gravidade, as leucemias agudas podem ser doenças tratadas e curadas, em uma parte dos casos. Já nas leucemias chamadas de crônicas, a multiplicação das células neoplásicas é lenta e predominando células com algum grau de maturação. Nestes casos, diferentemente das leucemias agudas, a pessoa pode permanecer assintomática por meses e até mesmo por anos, sendo o diagnóstico estabelecido tardiamente.
Tipos de leucemia
Existem dois tipos principais de leucemias: a mieloide e a linfoide. Considerando ambos os fatores, o tempo de evolução e a origem celular, a doença divide-se em vários subtipos:
– Leucemia Mieloide Aguda (LMA), que é uma doença grave, possui mortalidade elevada, porém é curável em parte dos casos, sendo mais comum nos adultos;
– Leucemia Linfoide Aguda (LLA), doença grave que afeta mais as crianças e possui elevada possibilidade de cura. A LLA ocorre também nos adultos, porém com pior prognóstico em relação à infância;
– Leucemia Mieloide Crônica (LMC), doença mais frequente nos adultos, assintomática durante algum tempo, evolui com o aumento do baço e, se não tratada, pode-se transformar em uma leucemia aguda;
– Leucemia Linfoide Crônica (LLC), doença que predomina nos idosos, evolui lentamente e pode ser controlada com medicação, porém, não tem cura.
O que causa uma Leucemia (aumenta o risco de leucemia)
Na maior parte dos casos, não é possível determinar a causa de uma leucemia.
Qualquer um pode desenvolver leucemia. Ainda assim, estudos mostraram que certas condições e fatores podem aumentar o risco de desenvolver uma leucemia, incluindo:
– Tratamento anterior de câncer. Tratamentos anteriores de câncer envolvendo radiação ou quimioterapia podem aumentar a probabilidade de você desenvolver alguns tipos de leucemia.
– Radiação ionizante (raios X e gama) proveniente de procedimentos médicos (radioterapia). O grau de risco depende da idade, da dose de radiação e da exposição: leucemia mieloide aguda e crônica, e leucemia linfoide aguda.
– Quimioterapia (algumas classes de medicamentos usados no tratamento do câncer e doenças autoimunes): leucemia mieloide aguda e leucemia linfoide aguda.
–Tabagismo. Se você tem histórico de fumar ou exposição à fumaça de cigarro, você tem risco aumentado de desenvolver leucemia mieloide aguda.
– Exposição a produtos químicos industriais. Benzeno e formaldeído são produtos químicos cancerígenos conhecidos, encontrados em materiais de construção e produtos químicos domésticos.
– Benzeno (encontrado na gasolina e largamente usado na indústria química): leucemia mieloide aguda e crônica, leucemia linfoide aguda.
– Formaldeído: exposição ocupacional em indústrias (química, têxtil, entre outras), área biomédica/saúde (hospitais e laboratórios, como antisséptico, desinfetante, fixador histológico e solvente), além do uso não autorizado pela Anvisa desta substância em alguns salões de beleza (procedimento de alisamento capilar).
– Certos distúrbios genéticos. Distúrbios genéticos, como neurofibromatose, síndrome de Klinefelter, síndrome de Schwachman-Diamond e síndrome de Down, podem aumentar o risco de desenvolver leucemia mieloide aguda.
– Histórico familiar de leucemia. Pesquisas sugerem que alguns tipos de leucemia podem ocorrer em famílias: Leucemia mieloide aguda e leucemia linfoide crônica.
Na maioria dos casos, no entanto, ter um parente com leucemia não significa que você ou outro membro da família também desenvolverá leucemia.
– Síndrome mielodisplásica e outras desordens sanguíneas: leucemia mieloide aguda;
– Idade: quanto maior a idade maior o risco de desenvolver leucemia. Exceto a leucemia linfoide aguda, que é mais comum em crianças. Todas as outras formas são mais comuns em idosos.
– Exposição a agrotóxicos, solventes, diesel, poeiras, infecção por vírus de hepatite B e C: leucemias.
Diagnóstico
Diante da suspeita de um quadro de leucemia, o paciente deverá realizar exames de sangue e deverá ser referenciado para um hematologista, para avaliação médica específica.
O principal exame de sangue para confirmação da suspeita de leucemia é o hemograma. Em caso positivo, o hemograma estará alterado, mostrando na maioria das vezes um aumento do número de leucócitos (em uma minoria das vezes o número poderá ser normal ou diminuído), associado ou não à diminuição da hemoglobina e plaquetas. Outras análises laboratoriais devem ser realizadas, como exames de bioquímica e da coagulação, e poderão estar alteradas.
A confirmação diagnóstica das leucemias agudas pode ser realizada com o exame da medula óssea (mielograma). Nesse exame, retira-se uma pequena quantidade do material da medula óssea, proveniente do material esponjoso de dentro do osso, do tutano do osso para análise citológica (avaliação da forma das células), citogenética (avaliação dos cromossomos das células), molecular (avaliação de mutações genéticas) e imunofenotipagem (avaliação do fenótipo das células).
Nas leucemias chamadas de crônicas o diagnóstico pode ser realizado através de outros exames de sangue.
Algumas vezes pode ser necessária a realização da biópsia da medula óssea. Nesse caso, um pequeno pedaço do osso da bacia é enviado para análise por um patologista.
Tratamento
Atualmente, apenas as leucemias agudas são curáveis, especialmente a Leucemia Linfoide Aguda da infância. As leucemias crônicas são controladas com quimioterapia, que, em geral, possibilita aos pacientes uma boa qualidade de vida.
Alguns casos de leucemias agudas e, mais raramente, de leucemias crônicas necessitam de um outro tratamento além da quimioterapia, o chamado Transplante de Medula óssea (TMO) alogênico.
Nesse tipo de transplante, a medula óssea do paciente, que não está funcionando adequadamente, é substituída por células-tronco hematopoiéticas de um doador saudável e com uma composição genética semelhante, podendo ser um familiar ou não.
Estas informações fornecem uma visão geral e podem não se aplicar a todos. Consulte seu médico para saber se são aplicáveis ao seu caso e para obter mais detalhes do assunto.
Referências
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8- Leucemias-saiba tudo sobre todos os tipos de leucemia. Abrale, 7 de agosto de 2023. Disponível em: http://abrale.org.br/doencas/leucemia. Acesso em: 22/01/2025.
Autor: Dr. Sílvio Marques Pessoa – CRM: MG 16032
Uberlândia – MG, 03 de Fevereiro de 2025